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Constantino Sakellarides |
1 - Invernos. É o inverno mais longo. Ao telefone soubemos que morreu um amigo. Quarenta dias de internamento e sofrimentos. Faz-nos falta. E logo, no noticiário da noite: em Setúbal
há pessoas que não têm como comprar para comer. É a fome com a vergonha
de pedir. À última hora: uma nova variante do malfadado vírus. Uma
ameaça mais? E um toque no WhatsApp: no condomínio de 32, "algumas
pessoas estão a atingir os limites" - temos de conversar! A vacina
chegou, que bom, mas a seu ritmo. A distância protegida continuará como a
solução possível, verão adentro. Resistiremos.
2 - A pandemia destapou, A pandemia destapou crónicas limitações nas nossas instituições,
comportamentos e formas de governação: respondemos com grande
dificuldade aos desafios do envelhecimento. Em parte, porque o SNS não
deu ainda o salto qualitativo necessário para superar a sua fragmentação
original e gerir bem os percursos das pessoas através dos cuidados de
que necessitam. Mas também porque nos faltam políticas e orçamentos de
bem-estar que articulem a ação dos vários setores para um mesmo fim; sem
uma "política para as profissões da saúde", estas continuarão a
abandonar, crescentemente, o SNS; na saúde pública, à sua versão
centralista, normativa e autoritária, igual para todos, que apela à
obediência, é necessário acrescentar melhor aquela outra que
descentraliza, informa e diferencia localmente, que conta com as pessoas
e apela à sua inteligência; fazemos planos de "inverno" ou de
"vacinação" que não são acompanhados de quaisquer referências à base
científica das opções adotadas.
3 - Oportunidade de desenvolvimento. Não podemos
simplesmente esperar pelo verão, sem mais. Queremos começar a recuperar o
que perdemos, mas fazê-lo regressando ao futuro. Há 20 anos numa
"classificação" envolvendo os sistemas de saúde de todos os países do
mundo, promovida pela OMS, ficámos em 12.º lugar. De notar, no entanto,
que o índice adotado para comparar desempenhos entre países foi ajustado
em função da escolaridade e da capacidade em criar riqueza da parte de
cada país. Não tínhamos, propriamente, o 12.º melhor sistema de saúde
mundo - o que a análise nos disse foi que, comparativamente, o
desempenho na saúde em Portugal excedia o que seria de esperar face ao
grau de desenvolvimento do país. Dificilmente poderíamos fazer muito
melhor na saúde, se o país não pr
3 - Oportunidade de desenvolvimento. Não podemos
simplesmente esperar pelo verão, sem mais. Queremos começar a recuperar o
que perdemos, mas fazê-lo regressando ao futuro. Há 20 anos numa
"classificação" envolvendo os sistemas de saúde de todos os países do
mundo, promovida pela OMS, ficámos em 12.º lugar. De notar, no entanto,
que o índice adotado para comparar desempenhos entre países foi ajustado
em função da escolaridade e da capacidade em criar riqueza da parte de
cada país. Não tínhamos, propriamente, o 12.º melhor sistema de saúde
mundo - o que a análise nos disse foi que, comparativamente, o
desempenho na saúde em Portugal excedia o que seria de esperar face ao
grau de desenvolvimento do país. Dificilmente poderíamos fazer muito
melhor na saúde, se o país não progredisse no seu desenvolvimento
económico, social e cultural.
Ler o artigo todo aqui: https://www.dn.pt/edicao-do-dia/29-dez-2020/saude-2021-regressar-ao-futuro--