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João Moreira da Silva |
Os jovens entre os 18 e os 30 anos são quem menos vota nas eleições em
Portugal. João Cancela, da NOVA-FCSH, explicou à VISÃO que este fenómeno
se justifica por eleições pouco competitivas e pelo afastamento dos
partidos políticos. A solução para contrariá-lo pode passar pelo direito
ao voto aos 16 anos ou por simulações de eleições nas escolas
secundárias
A mais recente sondagem do ISCTE/ICS,
relativa aos meses de novembro de dezembro de 2020, indicou as
previsões para as eleições de dia 24 de janeiro: Marcelo Rebelo de Sousa
mantém-se à frente, com 66% dos votos, seguido por Ana Gomes, a uma
distância de 53 pontos percentuais.
Entre estes números, que tentam prever o desfecho final das eleições
presidenciais do início de 2021, há um valor que passa despercebido: a
participação dos eleitores jovens, entre os 18 e os 24 anos, no processo
eleitoral. De acordo com o relatório da sondagem, “o que distingue os
eleitores mais jovens é a propensão para responder que não votariam
nesta eleição” – 35% dos inquiridos desta faixa etária afirmaram que não pretendiam votar, enquanto que 18% respondeu que ainda não sabia como votaria.
“Embora haja uma tendência geral nas democracias para os jovens
votarem menos que os mais velhos, essa assimetria varia de país para
país. Em Portugal, esta tem sido particularmente acentuada, quando
comparamos com outros casos”, disse João Cancela, Professor na
NOVA-FCSH, em conversa com a VISÃO. Perante este cenário, cabe
compreender as causas que levam a esta elevada taxa de abstenção dos
jovens e o que pode ser feito para reverter o fenómeno.
Há várias teses que tentam explicar este fenómeno: desde as alterações
na estrutura de valores das gerações mais novas, a mudança da composição
geracional do eleitorado, a baixa cobertura mediática das eleições ou o
simples desinteresse dos jovens na política. Sunshine Hillygus,
Professora de Ciência Política na Duke University, chegou a afirmar que
“os jovens têm horários e estilos de vida muito mais instáveis do que
as pessoas com 40 anos, o que os leva a gerir pior a sua vida e a votar
menos.” Para João Cancela, há duas grandes causas que parecem ser
reveladoras das altas taxas de abstenção dos jovens: eleições menos
competitivas e polarizadas, assim como um afastamento progressivo dos
partidos políticos.
...Quanto ao facto de as eleições serem menos competitivas e polarizadas, é notório que as pessoas que adquiriram o direito de voto nas primeiras décadas da democracia se mobilizaram em maior escala para as urnas e continuaram a votar nos anos seguintes. Por oposição, as pessoas que começaram a votar nos anos 90, por exemplo, entraram num contexto político diferente, o que alterou a carga e urgência de ir votar. “Há um forte contraste entre as primeiras décadas da democracia portuguesa e as mais recentes, sendo este um fenómeno que também se observa noutros países.”
...Quanto ao facto de as eleições serem menos competitivas e polarizadas, é notório que as pessoas que adquiriram o direito de voto nas primeiras décadas da democracia se mobilizaram em maior escala para as urnas e continuaram a votar nos anos seguintes. Por oposição, as pessoas que começaram a votar nos anos 90, por exemplo, entraram num contexto político diferente, o que alterou a carga e urgência de ir votar. “Há um forte contraste entre as primeiras décadas da democracia portuguesa e as mais recentes, sendo este um fenómeno que também se observa noutros países.”